

Médium Consciente
À luz de Ramatís
As revoluções dos povos frente aos sistemas políticos são sempre benéficas?
Os jornais comentam em "manchetes" berrantes, roubos, crimes, estupros, violências, assaltos, loucuras alcoólicas, viciações de entorpecentes, adultérios, prostituição, latrocínios e corrupção pública! Porventura, alguma revolução liderada por grupos de políticos ou patriotas aquecidos por paixões algo semelhantes poderá harmonizar e solucionar esse estado crítico e revolucionário inato no homem terreno?
O advento do Cristo também foi uma revolução, pois de sua atuação sublime no mundo "mudaram-se" todas as formas de ação humana, onde o amor deve substituir o ódio, a humildade o orgulho, a renúncia à pilhagem, o bem ao mal, a paz à guerra!... O Mestre Jesus não se endeusou sob a vaidade infantil dos distintivos e penduricalhos no peito perecível, nem liderou homens na gloríola do poder transitório; mas ele revolucionou o mundo lavando os pés dos apóstolos e sacrificando a sua vida pela felicidade da humanidade!
Foi um revolucionário jamais igualado, porque ensinou o governo do espírito sobre as paixões e os vícios, em verdade, os piores inimigos do homem! Nas guerras ou revoluções do mundo, os militares ou civis marcham eufóricos pelas ruas em passeatas crivadas de símbolos, bandeiras, fanfarras, e fuzis, quais "salvadores" liderados pelos seus cabeças, êmulos de "Duces" e "Führers", que depois transformam as suas pátrias em ruínas! 1
Jesus, no entanto, era apenas o "Grande Amigo", cujo séquito revolucionário era composto de viúvas, pescadores e homens pacíficos, que manuseavam as armas do Amor para estabelecer a paz e a Compaixão na alma!
Através do silencioso comando da alma, Jesus instituiu a revolução do Amor, do Bem e da paz para toda a humanidade, independente de raças, credos, sistemas políticos ou entendimentos intelectivos. Enquanto isso, no mundo profano, o "chefe revolucionário" exige que sejam cumpridas as suas próprias preferências, simpatias e modo de julgar o mundo, isto é, o seu comportamento particular deve ser modelo de todos os seus comandados! Quando ele é visceralmente católico, como Franco e Salazar, o Clero amordaça e domina quaisquer movimentos espiritualistas liberais; sendo ateu, há relativa liberdade de agirem os ateus, mas amordaça as doutrinas religiosas desprotegidas no regime inconstitucional, predispondo os quadros melodramáticos dos martírios!
Se for um governo espírita, é possível que mande fechar as Igrejas e os terreiros de Umbanda; se for um governo fanatizado pela Umbanda, talvez feche todos os centros espíritas kardecistas! Catarina de Médicis matava os católicos na França, mas Calvino, protestante, mata Servet na Basiléia, enquanto os huguenotes "modernistas", que fugiam para a Nova Inglaterra, eram assassinados pelos fanáticos "conservadores" da mesma crença! Os cruzados matavam os fiéis sarracenos, e os muçulmanos e budistas hoje ainda se matam impelidos pela mesma ferocidade do tempo das cavernas!
No entanto, qual é o fundamento específico da revolução trazida pelo inesquecível Jesus, senão o mandamento "salvacionista" do "Ama o próximo como a ti mesmo"? E para os revolucionários nutridos pelo ódio, pela vingança e pelos assomos exagerados de salvação pátria, em geral, o Divino Mestre recomenda: "Aquele que perder a vida em meu nome, ganhá-la-á por toda a eternidade!" Deste modo, embora se justifique o instituto das revoluções no mundo material terreno, na tentativa de corrigir a degeneração costumeira da administração pública ainda regida por homens imperfeitos, elas apenas fazem vibrar o coração dos novos patriotas, como a panacéia salvacionista do povo, ante a esperança única pela "mudança" das coisas vigentes!
O povo sente-se feliz no advento revolucionário, crente de que o novo regime há de ser melhor que o governo exonerado. No entanto, em face da proverbial imperfeição humana, não somente os "salvadores" esfriam os seus ímpetos de euforia pátria, no decorrer da administração, como ainda penetram no movimento libertador homens oportunistas, medíocres, ambiciosos e hipócritas, cujo mimetismo de patriotismo retardado chega a impressionar os autênticos! Daí o aforismo tão comum, de que "a vassoura varre bem no primeiro dia"! E, inexoravelmente, como é tão comum na face do orbe terráqueo, vão se deteriorando os fundamentos sadios traçados pelos revolucionários sinceros e impolutos, que logo se surpreendem enfrentando as mesmas enfermidades legislativas, sociais, morais e administrativas dos seus antecessores julgados incompetentes e inescrupulosos!
Sem dúvida, isso tudo acontece, porque o melhor governo revolucionário do mundo poderá modificar o conteúdo político de um povo, jamais o seu conteúdo espiritual, que requer outra espécie de revolução endógena, no seio da alma enferma!
1 - Nota de Ramatís: - Louvamos o vosso povo, cujas revoluções tendem cada vez mais para soluções tranqüilas e sem derramamento de sangue. Só as nações "superdesenvolvidas" em espírito sabem resolver os seus problemas vitais e complexos políticos a distância da violência, trucidamento e desforras fratricidas! Daí o Alto confiar que o Brasil será o povo mais fraterno e espiritualista do mundo, a distância das guerras e revoltas homicidas, terra esperançosa, onde os próprios militares trocam o "manual de guerra" pelo Evangelho do Cristo, na sua participação às cruzadas militares espíritas e movimentos pacíficos de Umbanda.
PERGUNTA: - E que dizeis das revoluções feitas pelos povos, quando pretendem eleger um novo governo, honesto e criterioso, para coibir a corrupção?
RAMATÍS: - É óbvio que o vocábulo revolução já induz uma iniciativa violenta de mudança do regime dominante, a fim de atender às insatisfações políticas de um povo, nação, ou mesmo grupo de homens. Comprova-se, assim, o primarismo do homem terrícola na sua graduação espiritual, pois ele ainda não sabe resolver os seus problemas sociais, políticos, pátrios e morais, sem a violência que gera o clima de ódio, ciúme, competições e falsas glórias!
As questões políticas, religiosas e sociais dividem o mesmo povo em diversas facções adversas, nutrindo uma guerra permanente, ante a preocupação de cada conjunto pretender impor a sua preferência e simpatia. Embora as revoluções glorifiquem os seus autores e os consagram no altar dos heróis, patriotas e "salvadores" do povo, em verdade, há sempre um jogo de interesses, em que os grupos dominados reagem contra os grupos dominantes.
A revolução já é um estado de espírito em cada homem sempre insatisfeito, pensando em "mudar" de qualquer forma, onde quase sempre procura exclusivamente o seu próprio bem. Quando esse estado de espírito oculto se exterioriza na configuração de movimentos belicosos ou lutas sangrentas, apenas materializa a insatisfação de muitos homens afinizados à mesma frequência de desejos.
Só em casos raríssimos, um ideal isento de interesses pessoais move uma revolução em favor do povo, pois, em geral, a cobiça e a ambição são próprias dos revolucionários de todos os tempos. A prova é que, incessantemente, novas revoluções substituem as velhas revoluções, porque os salvadores do povo passam a cuidar de sua própria salvação! Por isso, apesar do benefício que às vezes certas revoluções proporcionam sob uma intenção superior, jamais elas podem promover a felicidade de um povo, porque não atendem especificamente os interesses totais dá coletividade, mas são geradas por grupos de homens associados pela mesma simpatia grupal. Deste modo, mormente a proclamação de "salvadores", trata-se de um grupo afim e que passa a prestigiar exclusivamente os seus membros, desvinculando da "salvação" os depostos e os que não vibraram com o movimento revolucionário.
Evidentemente, se a fidelidade, tolerância, renúncia, honestidade e o verdadeiro patriotismo de raça existissem unificados por um esquema evangélico do bem alheio, jamais haveria necessidade de revoluções, as quais apenas significam o corolário de uma insatisfação coletiva! Ademais, os homens terrenos ainda ignoram quais são os tipos de suas reações mentais e emotivas diante de acontecimentos incomuns, aos quais são lançados intempestivamente.
Assim, eles podem variar e exceder-se profundamente ao contrário dos hábitos comuns, mudando o seu procedimento conhecido e revelando-se, às vezes, em completo antagonismo com as suas características conhecidas na vida cotidiana. Quem for uma incógnita para si mesmo, quando elevado ao cargo supremo de um povo, tanto pode ser benéfico como maléfico, dependendo das paixões, interesses ou ambições que o dominam.
Sabe-se que muitos imperadores romanos iniciaram o seu reinado imbuído das melhores intenções, tal o caso de Nero; no entanto, a volúpia do poder, a bajulação dos cabotinos e a perspectiva do luxo e do prazer, nutrem a vaidade, o orgulho, a desforra e outras paixões indesejáveis. Hitler parecia um homem inofensivo, servil e atencioso, quando era simples cabo do exército alemão, na guerra de 1914. No entanto, fascinado pelo comando e poder governamental, foi um verdadeiro flagelo para o mesmo povo que o aqueceu nas suas intenções e pretensos ideais de felicidade humana!
Sem dúvida, isso ocorre também com os líderes revolucionários, pois são raros os que conseguem lançar-se do anonimato às credenciais do poder, mas sem tumultuar-se escravo das paixões e vaidades, que dormitavam sub-repticiamente no âmago de sua alma imatura.
PERGUNTA: - Mas, evidentemente, há sempre uma boa intenção quanto à iniciativa de homens, os quais se congregam para mudar um regime ou governo indesejável e até corrupto, não é assim?
RAMATÍS: - Na qualidade de espíritos desencarnados, e interessados no comando superior do Cristo, não pretendemos analisar quanto à "psicologia das revoluções", nem quanto às motivações políticas ou sociais que as promovem. Enquanto o homem não mudar visceral e interiormente, ele viverá em guerra com as suas próprias paixões e seus vícios escravizantes.
Então não haverá paz e ventura na Terra, seja qual for o tipo de doutrina ou sistema adotado para se governar o povo. A revolução é tão permanente na alma do homem terrícola que ele à tarde arrepende-se do que fez pela manhã, numa perfeita guerra consigo mesmo! Assim permanece a luta silenciosa ou ruidosa no seio da família, da vizinhança, nas ruas e nos estabelecimentos de trabalho, na diversão e até devoção!
Fonte: "A Vida Humana e o Espírito Imortal"
Ramatís/Hercílio Maes - Editora do Conhecimento.
