

Médium Consciente
À luz de Ramatís
Será que as palavras proferidas na oração influenciariam a mesma?
PERGUNTA: - Cremos que as palavras pronunciadas durante a prece são de pouca importância e eficácia. Não é assim?
RAMATÍS: - As palavras também se configuram na mente humana durante a prece porque lhes cabe a função de expressar as ideias e os variados estados de espírito do homem, embora os seus lábios não as pronunciem. A oração sem palavras "pensadas" ou "pronunciadas" seria então o estado de espírito do "samadhi" tradicional dos hindus.1
No entanto, o homem só pode orar quando parte de um motivo ou de uma ideia que ele associa a outras ideias mais ou menos sublimes, até estabelecer em si mesmo um ritmo psíquico cada vez mais ascendente.
Em consequência, o impulso inicial da oração também exige de vossa mente a projeção de uma palavra correspondente à emoção, à ansiedade ou ao sentimento que experimentais naquele momento, até configurar-se na vossa consciência. A prece exige sempre um motivo, um elo ou ponto de partida, para depois desatar-se na mente humana, quer seja a rogativa a Deus para restaurar o espírito combatido, quer seja a súplica para amenizar o sofrimento da alma de alguém falecido. Quando a prece se acende na intimidade da criatura, as palavras também lhe afloram vivíssimas na mente, correspondendo às figuras, às ideias e aos estados de espírito que ela vive naquele momento. Quer se trate de uma prece endereçada a Jesus, a um santo católico ou guia espírita, o homem quando ora tem de partir de algo já conhecido ou ideado na sua mente.
A prece maquinal, o recitativo displicente ou a ladainha fastidiosa são inócuas, porque lhes falta no seio das palavras o sentimento espiritual que faz a alma vibrar com a intimidade divina. E as preces dramatizadas, compungidas ou exaltadas, também se anulam nessa exteriorização, pois os recursos vulgares do mundo material transitório não possuem a força grandiosa de sublimar o Espírito eterno.
A pose mental no ato da prece é um estado de fuga ou de liberação espiritual, em que a personalidade humana cede em favor da individualidade eterna.
Às vezes, o sacerdote católico, o pastor protestante ou o doutrinador espírita oram mediante longos gestos de súplicas e exclamações comoventes, mais preocupados quanto à opinião pública do que mesmo à sua comunhão espiritual com Deus. No entanto, um homem simples, analfabeto e destituído dos recursos de oratória, porém, humilde e confiante no seu Criador, pode obter facilmente os favores sublimes do Alto, em sua linguagem profana e singela, porque trata-se de uma rogativa sincera, pura e sem interesse pessoal.²
1 - Nota do Revisor: "Samadhi" é um estado de espírito de pura abstração e peculiar das almas santificadas. No Ocidente é conhecido pelo "êxtase" dos santos.
2 - Notado Médium: Estas palavras de Ramatís fazem-nos recordar um conto sertanejo, humorístico, em que alguns sacerdotes católicos, pastores protestantes, médiuns espíritas e adeptos esotéricos achavam-se impedidos de realizar uma festividade campestre de confraternização, porque a chuva caía inclemente. Então, os sacerdotes católicos, compenetrados e compungidos, fizeram comovente apelo a Deus para cessar a chuva, mas sem obterem qualquer resultado. Em seguida, os pastores protestantes também rogaram, sem resultado, a mesma graça.
Finalmente, os espíritas e os esoteristas recitaram enternecida prece. Contudo, apesar da linguagem culta, o fraseado castiço e o tom religioso, todos fracassaram, pois a chuva continuava a cair impiedosamente. Então o caboclo humilde, que os hospedava, bastante pesaroso ante a desilusão dos hóspedes, levantou-se, chegou à janela e olhando sério para o céu, exclamou num tom de censura: "Ué, meu Pai? Mecê tá zangado hoje? Num quê pará a chuva prôs coitados fazer sua festa?" Para espanto geral de lodos, eis que a chuva cessou repentinamente.
Fonte: "Elucidações do Além" - Ramatís /Hercílio Maes
Editora do Conhecimento.